Por Karina Castilho
Se fosse a voz do policial seria: “Mãos ao alto! Polícia!” Mas o título deixa bem claro a situação: somos nós que temos apontado a arma e dito: “Ei, mãos ao alto, polícia!” E sabe quando fazemos isso? Sempre que tentamos tirar deles o direito de defesa à própria vida ou em favor da nossa, sempre que os pré julgamos por sacar a arma em meio à multidão – como o caso recente de arrastão na praia do Rio de Janeiro. O policial, após sofrer agressões, sacou a arma, causou alvoroço e dividiu opiniões sobre sua conduta. Mas quero destacar a opinião do Secretário de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro, acerca do arrastão: “A polícia está enxugando gelo, está sendo constrangida. Se atua, abusou de poder, se não atua, prevaricou“, disse José Mariano Beltrame em entrevista à Rádio CBN. BRAVO, Sr. Beltrame!
É verdade. Nós não sabemos o que queremos! Ser protegidos ou não? Ir à praia com nossos filhos tendo a certeza de que a polícia estará lá para nos proteger ou não? Queremos que todo cidadão tenha os seus direitos garantidos, mas queremos determinar quando a polícia pode ter os seus direitos no exercício da função? Desde quando a farda elimina o cidadão atrás dela? Acaso é um robô quem a veste? Ou será que a outra parte da sociedade, a que acusa arduamente a conduta do policial, está certa em repreendê-lo e inocentar um bandido em nome dos “direitos humanos”? Enfim, há muito o que discutir, questionar, entender…
Mas ao observar o quanto a arma de fogo ou o uso indevido da arma é explanado e discutido, inclusive sobre a capacidade e habilidade do policial em seu manuseio, decidi aprender na prática como é feito o Treinamento de Tiro na Polícia Militar do Estado de São Paulo – mais específicamente no 9o Batalhão da PM, em Marília-SP. E é isto que quero compartilhar com vocês! Quero ressaltar que não fui submetida a um treinamento contínuo – como os soldados em fase de preparação (estágio), tão pouco puxei o gatilho de uma pistola semi-automática (calibre .40) carregada. Mas em compensação, fui submetida a situações de estresse, fui “forçada” a pensar em segundos se deveria atirar ou não, aprendi a manusear a arma, a negociar em situações com reféns, e claro, pude sentir todo o “peso” da responsabilidade que um policial sente ao sacar a arma – seu último recurso! E valeu a pena cada lição.
Durante o Treinamento de Tiro da PM recebi instruções do Tenente Marcus e do Capitão Denílson. Aprendi a manusear a pistola semi-automática (calibre .40) e a carabina (calibre 12).
Recepcionada pelo Capitão Denílson Marques Lopez Evangelista, que prontamente me conduziu dentro do Batalhão, confesso que fiz muitas perguntas e tinha grandes expectativas sobre este treinamento. Sempre pensei, e sem nenhum conhecimento de causa, que o policial tinha prazer em sacar a arma. Pensava que era uma forma de mostrar mais autoridade, nos intimidar. Leigo engano! “O ato de manejar a arma e fazer uso dela é um processo que requer muito treinamento, ao contrário do que pode parecer. Ao ingressar na PM, as pessoas se surpreendem com as dificuldades, pois o treinamento é feito de modo escalonado. Eles conhecem todos os recursos e fazem uma parte de estágio, o que é muito importante. Antigamente a PM não tinha estágio, era o policial executando o serviço na rua. Hoje não, ele faz o estágio durante a formação de soldado e isso ajuda a proteger o policial e a capacitá-lo melhor para as ocorrências”, esclarece Capitão Denílson, policial há 25 anos.
“É importante ter o conhecimento do armamento, saber como usar e quando usar. Ao deparar com uma situação, o policial, em segundos, tem que definir se é um caso atirável ou não. Por isso acontecem tantas perguntas sobre o uso do armamento. Porém, o policial tem segundos para decidir. Então buscamos preparar o policial para que ele decida corretamente mesmo tendo pouco tempo para isso! Desde o início nós ensinamos ao futuro policial que ele está ali (com o porte de arma), para salvar vidas e nunca para tirar. Nós vamos atuar apenas para revidar uma injusta agressão contra o policial ou contra um terceiro”, acrescenta Marcus Eduardo Diniz, instrutor de tiros da PM há 6 anos e policial há 12 anos.
Sargento Julio instruindo os soldados durante o treinamento de tiro ao alvo.
(Fotos: Karina Castilho)
Durante todo o treinamento os instrutores e Comandantes, encarregados pela formação, estão observando a conduta do soldado, e se notam algo diferente, algo psicológico que possa causar problemas, o policial é reavaliado. “Por isso o estágio é fundamental, pois só depois de estar preparado e conhecer realmente o armamento é que o policial começa a executar disparos. Esses disparos são fixos, ao alvo, para que eles tenham controle sobre a arma e sobre as diversas posições para o disparo (em pé, deitado, sentado, agachado). O policial é obrigado a treinar tudo isso. Após esta fase, ele é submetido a situações reais de estresse e riscos através do “Método Giraldi”, completa Capitão Denílson.
- Aplicação do “Método Giraldi”: Policial treinando simulação com refém e abordagem com suspeito armado
Os jovens que ingressam na Polícia Militar estão ávidos por conhecimento e treinamento, mas sabem da responsabilidade que terão ao usar a arma. “Temos que estar bem adaptados ao próprio armamento para sabermos usá-lo no dia a dia”, conta Mateus Mendonça Rodrigues, 23 anos. “Acho necessário e primordial o policial militar saber usar a arma corretamente”, concorda Kevin Pereira de Sá , 20 anos.
- “Ao deparar com uma situação, o policial, em segundos, tem que definir se é um caso atirável ou não”, enfatiza Tenente Marcus durante o treinamento. (Foto: Karina Castilho)
O soldado Luan encontra inspiração na própria família para salvar vidas e afirma que o conhecimento é indispensável. “Sou filho de militar e cresci vendo o dia a dia de um policial. Meu pai sempre simbolizou um herói para mim e isso me inspirou. Aos 17 anos procurei uma universidade, cursei Direito e aos 22 anos concluí. E de imediato procurei o policiamento. Quanto ao Treinamento de Tiro, sempre tive curiosidade, acho de suma importância o uso do armamento e é válido ressaltar que o policial precisa ter muito conhecimento para agir dentro da Lei”, enfatiza Luan Fernando Amorim de Almeida , 22 anos.
A PM atua segundo normas internacionais para o uso Escalonado da Força. Então o policial usa o equipamento proporcionalmente à agressão ou situação, tendo à sua disposição duas ferramentas que é o bastão Tonfa e o gás de pimenta. Além destes recursos também está sendo inserida na PM uma ferramenta chamada Taser (arma de eletrochoque utilizada para imobilizar momentaneamente uma pessoa). Tudo isso para que a arma de fogo seja o último recurso.
Policiais são formados, principalmente, para proteger e salvar vidas. Ainda não pensa assim? Não espere estar numa situação de risco para acreditar que eles que podem lhe salvar.
Nesta experiência, percebi que muitas vezes questionamos se o policial é bom o suficiente para acertar o alvo, mas aprendi que mesmo isso sendo importante, o principal é o conhecimento, o controle, o domínio e a percepção sobre a situação. É fato que existem, sim, policiais despreparados e embora este seja um assunto muito relevante, não tenho a intenção de falar do erro neste artigo, mas sim, do “tiro certo” que esta Instituição tem conseguido executar com maestria, pois os erros são pequenos se comparados à quantidade relevante de acertos. E estes me enchem de esperanças de que, um dia, poderei ler (e ouvir) novamente o título deste artigo com a pontuação no lugar certo: “Mãos ao alto! Polícia!”
Excelente matéria, Karina!
É muito fácil as pessoas ficarem atrás de seus computadores criticando a polícia quando são esses policiais que dão as suas vidas por nós. Ao sacar a arma o maior alvo é o próprio policial, que se expõe diante de uma multidão, sem saber de qual lado poderá ser alvejado. Afinal, um policial só deveria atirar após se identificar e haver ameaça concreta, isto é, após o criminoso atirar contra ele. Mas o bandido atira como quer, contra quem bem entender e assim vai. E a população, em sua ignorância, só crucifica quem deixa sua família em casa para dar sua própria vida em prol da segurança desse país!
Olá Michelle. Compartilho do mesmo pensamento, principalmente depois de conhecer melhor o treinamento e uso da arma policial. Obrigada por ler e comentar o artigo. Bjoka
Parabéns Ka pela matéria , como sempre matérias importantes e muito bem feitas para os leitores. Grande beijo
Oi Lu. Obrigada pelo carinho e por acompanhar o site. Deus abençoe muito! bjoka
Parabéns, Karina. Excelente matéria. Sucesso !!
Olá Denilson. Obrigada por toda a prestatividade e instrução. Deus abençoe!
Parabéns pela excelente matéria talvez agora algumas pessoas olhem o trabalho do policial com outros olhos.
Olá Júlio. Obrigada por acessar o site, ler e comentar a matéria. Deus abençoe. Volte sempre!